
Cuidar do patrimônio previdenciário de servidores públicos é uma missão que exige muito mais do que escolher investimentos com boa rentabilidade. Na prática, administrar os recursos de um Regimes Próprios de Previdência significa tomar decisões que impactam diretamente a segurança financeira de milhares de famílias no presente e, principalmente, no futuro. Por trás de cada decisão, existe um cenário repleto de incertezas, variáveis econômicas e exigências legais que tornam a gestão de riscos um elemento indispensável na condução responsável e sustentável dos investimentos.
Quando falamos em investir os recursos de um RPPS, é preciso entender que todo investimento carrega algum nível de risco. Ignorar essa realidade pode comprometer a saúde financeira do regime, afetando sua capacidade de cumprir com o pagamento dos benefícios previdenciários. Por isso, identificar, avaliar e administrar os riscos não é apenas uma boa prática, mas uma exigência prevista na legislação que rege os RPPS, como a Constituição Federal, a Lei nº 9.717/1998, a Resolução CMN nº 4.963/2021 e a Portaria MTP nº 1.467/2022.
No contexto dos investimentos, o risco de mercado costuma ser um dos mais evidentes e sensíveis. Ele reflete as oscilações nos preços dos ativos em razão de variações nas taxas de juros, inflação, câmbio, desempenho econômico e até instabilidades políticas. Esse tipo de risco afeta tanto os investimentos de renda fixa, quanto os de renda variável, podendo gerar perdas significativas, especialmente em momentos de volatilidade acentuada no mercado.
Outro risco relevante é o risco de crédito, que representa a possibilidade de inadimplência por parte dos emissores de títulos ou das contrapartes dos investimentos. Esse risco se materializa quando uma instituição financeira, empresa ou qualquer emissor não consegue honrar seus compromissos financeiros, comprometendo diretamente o valor investido e, consequentemente, o equilíbrio da carteira do RPPS.
O risco de liquidez também merece atenção, pois se refere à dificuldade de converter ativos em dinheiro dentro do prazo necessário e sem perdas relevantes. Esse fator é particularmente preocupante quando o RPPS precisa realizar pagamentos de benefícios ou cumprir com outras obrigações e não encontra compradores dispostos a adquirir determinados ativos sem oferecer um deságio expressivo.
De forma menos visível, mas igualmente perigoso, está o risco operacional, associado a falhas nos processos internos, erros humanos, falhas tecnológicas, problemas de controles, fraudes ou má gestão dos prestadores de serviços. Este risco, se não for devidamente monitorado, pode gerar desde pequenas perdas financeiras até situações que comprometam a credibilidade e a governança do regime.
O risco legal e regulatório também é uma constante. Mudanças na legislação, nas normas da política de investimentos, nas regras de alocação ou até interpretações diferentes por parte dos órgãos fiscalizadores podem impactar diretamente a estrutura da carteira, obrigando o RPPS a realizar movimentações que nem sempre são favoráveis ao desempenho dos investimentos.
Não menos importante, existe ainda o risco atuarial, que, apesar de não estar diretamente ligado aos ativos financeiros, exerce influência direta sobre a política de investimentos. Esse risco surge quando as premissas atuariais — como expectativa de vida, crescimento da folha de pagamento ou projeções demográficas — não se confirmam, gerando impactos no passivo previdenciário e, consequentemente, na estratégia de alocação dos recursos.
Diante de um ambiente que naturalmente carrega tantas variáveis, a gestão de riscos não pode ser vista como um processo isolado, mas sim como parte estruturante da governança do RPPS. Esse processo começa pela elaboração de uma Política de Investimentos robusta, que não apenas atenda aos requisitos legais, mas que seja efetivamente aplicada na prática, refletindo os objetivos, os limites, os critérios de diversificação, os parâmetros de liquidez e os controles de risco do regime.
A condução eficiente da gestão de riscos passa necessariamente por etapas bem definidas: identificar, mensurar, monitorar e controlar os riscos. Ferramentas como simulações de cenários, testes de estresse, análise de Value at Risk (VaR) e acompanhamento sistemático dos indicadores econômicos são fundamentais para antecipar possíveis impactos negativos e adotar medidas preventivas.
Nesse cenário, a diversificação dos investimentos se destaca como uma das estratégias mais eficazes para mitigar riscos. Distribuir os recursos entre diferentes classes de ativos — como renda fixa, fundos imobiliários, fundos de ações, estruturados e até ativos no exterior — reduz a exposição a eventos específicos, dilui riscos e aumenta a resiliência da carteira frente às oscilações de mercado.
Outro ponto indispensável é a seleção rigorosa dos gestores de recursos e dos fundos de investimento, priorizando instituições que possuam processos sólidos de compliance, gestão de riscos e governança, além de histórico consistente e reputação consolidada no mercado.
Vale destacar ainda que a aderência da política de investimentos ao passivo atuarial do RPPS é uma medida essencial de mitigação de riscos. Isso significa que as decisões de alocação devem estar alinhadas às necessidades de liquidez e às obrigações futuras do regime, considerando prazos, valores e projeções de pagamento de benefícios.
Por fim, o acompanhamento permanente do cenário econômico, das mudanças na legislação e dos desempenhos dos ativos deve ser rotina nas práticas dos gestores e dos comitês de investimento. Isso permite não apenas ajustar as estratégias de forma tempestiva, mas também garantir que o RPPS permaneça aderente às boas práticas de governança, segurança e sustentabilidade.
Gerenciar riscos nos investimentos de um RPPS é, portanto, um exercício que exige equilíbrio, responsabilidade e visão de longo prazo. Mais do que proteger os ativos financeiros, é uma forma de proteger o futuro dos servidores e a perenidade do próprio regime previdenciário.