Nem todo mundo nasceu para ser do CSI: por que respeitar os processos de investigação faz toda a diferença

Nem todo mundo nasceu para ser do CSI: por que respeitar os processos de investigação faz toda a diferença

Existe uma curiosa tentação no ambiente corporativo: a de querer resolver tudo na hora, com as próprias mãos. Especialmente quando falamos de comportamentos suspeitos, desvios éticos ou situações que exigiriam uma apuração mais cuidadosa. Nesses momentos, muitos profissionais – por impulso, senso de justiça ou até vaidade – acabam assumindo um papel que não é deles: o de investigadores.

Viram “detetives de ocasião”. Veem algo estranho, escutam um boato ou recebem uma denúncia informal e, ao invés de comunicar o fato pelo canal oficial, resolvem agir. Chamam o suposto infrator para conversar, começam a fazer perguntas, confrontam pessoas ou espalham “pistas” esperando que a verdade apareça.

Mas investigar não é isso. E definitivamente, não é para qualquer um.

Investigar, dentro de uma empresa, exige preparo técnico, conhecimento jurídico, domínio de metodologia e, principalmente, isenção. Envolve também algo que muitos ignoram: o tempo certo das coisas. A confidencialidade, o mapeamento de riscos, a documentação das etapas e a proteção tanto do denunciante quanto do denunciado são elementos cruciais para garantir que o processo seja justo, efetivo e seguro.

Quando alguém que não tem essa função no organograma decide agir por conta própria, o que era para ser uma investigação sigilosa e estruturada pode rapidamente virar um problema maior. Já vi casos em que, após uma “entrevista informal”, o infrator apagou provas, combinou versões com colegas ou se blindou juridicamente, tornando a apuração muito mais difícil depois. Há ainda situações em que o próprio gestor, ao tentar resolver um problema ético no grito ou no improviso, acabou sendo acusado de assédio, retaliação ou quebra de sigilo.

A boa intenção não basta. Aliás, no mundo corporativo, a ética exige mais do que boas intenções: exige processos. É por isso que empresas minimamente maduras contam com canais de denúncia oficiais, equipes preparadas para investigar (como compliance, auditoria ou comitês de ética) e protocolos claros que protegem todas as partes envolvidas.

E qual o papel dos demais colaboradores, então? Simples: denunciar. Ou, se souberem de algo relevante, comunicar ao responsável pelo canal. Confiar no processo e colaborar quando for chamado é o que se espera de quem, de fato, se importa com o ambiente de integridade da empresa.

Infelizmente, o comportamento do “justiceiro interno” é mais comum do que parece. É o líder que tenta resolver tudo na hora, o colega que pressiona outro por informações, ou até aquele que, mesmo fora do escopo, começa a especular e disseminar suspeitas. Esses comportamentos comprometem todo o ecossistema de apuração e, não raro, protegem justamente quem deveria ser responsabilizado.

No fim do dia, respeitar o processo de investigação não é sobre omissão, e sim sobre maturidade. É entender que cada um tem um papel a cumprir. Que agir com integridade inclui saber a hora de falar, a quem falar, e quando é melhor não falar nada — até que tudo seja devidamente apurado.

Nem todo mundo nasceu para ser do CSI. E está tudo bem. O que não pode é atrapalhar quem nasceu – ou foi treinado – para isso.

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